4.02.2016

Desabafos de uma mãe.

*Imagem We Heart It
 
"Queridas Joanas,

Sigo o vosso blog já há algum tempo, mesmo antes de ter engravidado, quando mês atrás de mês rezava para que o teste saísse positivo e nada. É como um bálsamo de energia positiva. Obrigada por partilharem um pouco do vosso dia-a-dia connosco, estranhas do outro lado da blogosfera.


Hoje escrevo-vos ainda de pijama, às 11.30 da manhã, enquanto a minha filhota de 3 meses dormita uma das sestas supersónicas dela (nunca mais de 30 minutos, safada).

Demorei ainda uns dias a decidir se vos escrevia ou não. Quando li o post da JG sobre a mãe que tinha levado a filha a ver os patinhos ao parque da Serafina (este) fiquei em lágrimas. Nesse mesmo dia (hormonas, só pode) também eu sentia que estava a falhar. A todos os níveis. Com a minha filha a chorar nos meus braços também eu chorei porque queria protegê-la e não sabia como. Tinha a casa em pantanas e sentia-me uma desilusão. Olhava o espelho e não me reconhecia. 

Faltava-me a mim também alguém que me dissesse “caga”. Mas a família está longe, os amigos (aqueles verdadeiros) contam-se pelos dedos de uma mão e também eles não estão por perto. Sobra o marido, que é 5 estrelas, mas a quem eu também não quero estar sempre a preocupar com as minhas queixas. 

Seguramente não sou a única que põe demasiada pressão nela própria. Queremos ser perfeitas e isso nunca vai acontecer.  Mas eu pensava que podia. Estava errada. Nos primeiros meses eu dizia “isto até nem é tão difícil, consigo tomar duche todos os dias, ir passear e por maquilhagem, ela mama bem, já só falta perder o peso extra”. Mas o peso não se foi, e a casa só fica mais desarrumada, e a pequena tem as suas crises que partem o coração a quem a vê (e ouve).

Muitas vezes dou comigo numa luta mental. “Limpo a casa, tento fazer exercício ou simplesmente tento dormir uma sesta com ela?“ E a luta é tão grande que acabo por não fazer nada disso. E depois vem a culpa. 

Oops. A pequena acordou (o que é que eu disse?) Já volto.

Ok, eu outra vez. Ahh, já sei onde ia. 

Também a mim me apetece dormir em concha e chorar um bocadinho. Também eu me sinto desamparada e sem ser capaz de fazer coisas, quando temos de fazer as coisas mais importantes da vida. Temos um ser humano, pequenino e frágil a depender de nós.

Já não me importo tanto com a casa. Escrevo-vos com um buraco no tecto da cozinha porque houve uma infiltração na casa de banho no andar de cima e agora temos de renovar o tecto. Lá se vai a teoria de ter a casa limpa e em ordem...

Mas é a outra casa, a da alma, que me apoquenta todos os dias. Este corpo não é meu. Também estava convencida que ia tudo ao sítio num par de semanas. Ou meses, no máximo. Uma semana depois da pequenita ter nascido fui correr (já sei, louca que os pontos podiam rebentar!). Mas fez-me maravilhas à alma. 
Mas o corpo continua na mesma, e eu não reconheço o que vejo reflectido no espelho. Quero sentir-me bem na minha pele. Mas até esse esforço me parece alienígena. 
Ontem pela primeira vez fui ao ginásio por uma hora (como não tenho ninguém a quem deixar a pequena, deixei-a na creche do ginásio).  E em vez de gozar o shot de endorfinas, passei a hora inteira e pensar se ela estaria bem, se estava a dormir, se estava a chorar, etc. 

É errado queremos tratar de nós como dos nosso filhos? Seguramente que não, mas por que é que eu penso que sim? 

Ela está a chamar por mim. Já volto.

Eu outra vez. :) Acabei por tomar um duche (com ela acordada, a olhar para mim sentadita no bouncer dela, que é a única maneira de conseguir tomar um duche), dar maminha e agora a pequenita está sossegada. Mais ou menos. 

Ok, o email já vai longo por isso é melhor parar por aqui.

Desculpem o turbilhão de sentimentos e palavras. É reflexo talvez do turbilhão que nos passa na alma a cada dia. Felicidade, tristeza, orgulho, desespero...

Só queria agradecer por serem tão sinceras e por partilharem um pouco da vossa vida connosco. E obrigada por nos lembrarem que somos humanas, a aprender a cuidar de seres pequeninos à nossa mercê, um dia de cada vez. 

Talvez este email sirva de desabafo. 


Muitas vezes precisamos de ser nos a dizer a nós mesmas "caga"."



A A. enviou-nos este email. Que ajude outras mães a dizerem "caga". Obrigada, A. pela confiança. <3 E força.

14 comentários:

  1. Nunca comentei tanto um blog como este pq realmente fala-nos ao coração certos testemunhos e desabafos. Tenho uma filha de 3 anos e estou prestes a ter o meu segundo filho. A dada altura podia ter sido eu a escrever estas linhas. É fácil sentir-mo-nos assim. Eu levei 2 anos a sentir-me EU de novo. À A. só quero dizer que vai tudo correr bem, que tudo vai passar, que não se isole, que os filhos são uma extensão de nós, e que nós temos de estar bem pra eles também estarem bem. É como no avião: temos de colocar a nossa máscara de oxigénio antes de colocar a deles :) só assim é que funciona. Um beijinho muito grande e força <3

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    1. Realmente nunca tinha pensado nessa metáfora da máscara no avião... e é tão real.. infelizmente nem toda a gente entende isso e a pressão de certos familiares não ajuda.

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  2. Boa noite. Reconheço bem o que estas a passar,também senti tudo é mais ainda. O corpo ao fim de 11 meses ainda não está totalmente recuperado. Tudo de bom e força :) bj

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  3. Omg!!! Isto é tão eu, revejo-me em cada linha!

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  4. Verdade. Também me sinto assim muita vez muitas vezes ao longo do dia. Tenho um filho mais velho com seis anos . Às vezes nao sei para q lado ne virar. :(

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  5. O lado da maternidade que nos diz, também passei por isso... Tem calma, vai passar!!!! Beijinhos 🌷

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  6. Sinto que sou a unica que vos escreve e as mensagens nem sequer sao entregues... Sei que nao tomo banho todos os dias como gostaria mas prometo que as mensagens nao cheiram mal! Ihih

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    1. Luani, hehe envia para onde? Recebemos tantas tantas que às vezes escapa (e somos duas, perdemos um bocado noção se a outra já respondeu ou não). Envie de novo pff. Bjs

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  7. Olá! Uma amiga partilhou este texto no facebook e senti necessidade de escrever-vos. Não conheço o vosso blog, mas fiquei muito curiosa! A minha filhota tem neste momento 13 meses. Durante este último ano, a minha vida mudou totalmente. Por um lado por mais que uma vez me perguntei "onde é que me fui meter"! Por outro sentia que finalmente tinha ganhado um objetivo de vida pelo qual valia a pena fazer tudo por tudo! O meu maior projecto é a minha filha! Daí a dualidade de sentimentos, quando queremos fazer algo por nós próprias e o coração impõe que aquela criaturinha seja merecedora de que passemos por cima de nós. A aceitação de que mudámos e de que possivelmente nunca mais teremos a vida e o corpo de antes acaba por ocorrer ao fim de alguns meses. Ao fim de alguns meses tambem acabamos por reorganizar as tarefas domésticas por prioridades deixando o não essencial, muitas vezes, por ser feito mais tarde! E quando voltamos ao trabalho, uma parte de nós fica feliz, pois naquelas 6/8h voltamos a ser nos próprias, e não "a mãe de X"! Mas eu só descobri o quanto amava a minha filha no primeiro dia que ela ficou a dormir na casa da avó! Chorei desalmada! Nada me fazia parar! Eu falava normalmente mas as lágrimas não paravam de cair. O meu cérebro aceitava o facto dela não estar comigo naquela noite. Mas o meu corpo não. Foi como se tivesse deliberadamente tirado os braços e deixado na casa da minha mãe. Não funcionava sem ela! Foi ai que percebi que akilo tudo era mais que algo passível de descrição ou quantificação. E aí todos os kilos ganhos, todas as noites perdidas, todas as rugas ganharam sentido!

    SG

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  8. Dá-me um apertozinho no coração pela A. Gostava até de ter um pouco mais da determinação dela!
    A minha já tem 1 ano e meio e se a casa já estava de pantanas antes agora ainda está mais...
    Algo que adoro neste blog e a clareza e serem directas sem panos quentes mostrarem as coisas mesmo como sao, com e sem folhos!

    O meu corpo até tinha voltado ao sítio em 3 meses...depois passou mais tempo e veio outro corpo que não reconheço e não gosto.

    Veio também mais dificuldade ainda em tomar um banho (algo que nunca pensei possível mas é...)

    Gostava que me tivessem dito e continuassem a dizer CAGA mas as pessoas não o dizem!
    Eu por outro lado a todas as
    Minhas amigas conhecidas e familiares recentemente mães ou que vão ser digo MUITAS MUITAS VEZES CAGA porque é preciso dizer para que percebam e vejam que não faz mal embora nos sintamos que estamos a fazer tudo mal ou a ser egoistas...
    Uiii que isto vai longo acabei por desabafar também desculpem!
    Beijinhos Joanas e para a A um grande especial e CAGA !!

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  9. Boa noite! Também sinto o mesmo. Um constante sentimento de que os dias sao todos iguais, de que nao fiz nada do que tinha planeado e cansaço...Cansada, cansada,cansada. A maniaca das limpezas agora tem a casa tipo saldos da Zara. Um caos! Quem diria? Ninguém me avisou o desafio que seria...eu chamo à maternidade os jogos sem fronteiras, pois temos de nos levantar mesmo depois de levar "porrada". Nos filmes é tudo tao cor de rosa! E os proprios profissionais de saùde sao os primeiros a apontar-nos o dedo. Depois de ter o meu filho passei 5 dias horriveis na maternidade de Genebra e as enfermeiras acordavam-me de 3 em 3h pra me obrigarem a por o bebe no peito. Insistiam tanto e eu nao tinha leite...Um dia o bebe ja mamava sangue aos berros. Tive de ganhar forças e acabar com aquele desespero. Chorei tanto que me mandaram para uma psiquiatra. Enfim! No comments! A dita cuja percebeu imediatamente que a crise de choro era simplesmente devida a cansaço. Por isso eu vos digo: caguem pra casa, pros familiares metediços, pros profissionais de saude carrancudos porque ninguem conhece mehor do que nos o bebe e o que nos passamos pra o fazer feliz! Um abraço muito grande

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  10. Já passou quase um ano desde que este texto foi escrito, mas ainda assim nao resisto a comentar.
    Tenho uma filha de 25 meses e outra de 4 meses. Desenganem-se se acham que a primeira dá menos trabalho que a pequena, porque está deixar a fralda, está no auge dos seus "terrible two" e agora, com a mana, só quer colo, mimo, atenção... e chora durante o dia e durante a noite.
    Também estou longe da família e amigos, também conto só com o meu marido. Também não me reconheço no meu corpo, no meu cabelo a cair, na anemia, tiroidites e outras "ites" que vieram agarradas às gravidezes e aos partos... Também tenho médicos, enfermeiros, pediatras, familiares, amigos e desamigos a dar todo o tipo de opiniões e palpites. A casa... Essa está num modo de sobrevivência assumido.
    E como estou cansada (muito cansada!) e só me tenho a mim e a ele e a elas, apoio o "caga". Sim, porque estou-me sinceramente pouco lixando para todo e qualquer comentário, instrução ou opinião alheia. Faço o que acho melhor para nós os quatro, nem que pareça a coisa mais descabida ou cabeluda a quem vê de fora... e há muito que abandonei os sentimentos de culpa das gotinhas cor de rosa ou do tablet antes de dormir.
    Faço o melhor que posso, dou o melhor que tenho, mas antes de todas as teorias, procuro sobreviver com sanidade mental e física que me permita tratar das minhas pequenas. E é isto. O resto são estórias de contos de fadas...

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