Confesso que, por muito que me dissessem que a magia era igual, não senti durante muito tempo. Não senti como da primeira. Andei ali que tempos a estranhar tudo, a esquecer-me de que estava grávida tantas e tantas vezes, a não ter uma ligação tão intensa com a minha barriga, pelo menos não tão intensa como da primeira vez. Nem o tempo de gravidez me pareceu o mesmo: passou tudo muito mais rápido. Não escrevi tudo num caderninho, não fiz um diário, não escrevi coisas apaixonantes, não tomei longos banhos de espuma a namorar cada pontapé, não cantei vezes sem conta para a bebé, nem conversei tanto com ela, não pus a barriga a ouvir música clássica. O pai não falou tantas vezes com ela, não beijou tanto a barriga, eu não comentei tanto cada pontapé, não roubei tantas vezes a mão do pai para sentir cada movimento. Não fiz tantas juras de amor. Não saboreei, com aquela paixão descompassada, cada segundo. Não fotografei a barriga todas as semanas. Não tive tantos medos, nem enjoos sequer. Não fiquei ansiosa nem fiz a mala com antecedência. Apesar da curiosidade, não a quis conhecer antes de tempo. Não tive, nem tenho, pressa.
Acredito que, pela minha descrição, estar grávida do segundo filho possa soar a algo frio e desapaixonado. Não é. É algo sereno, terno, apaziguador. Amo e desejo esta minha filha tal como desejei a primeira. Mas, talvez por já conhecer o Amor na verdadeira acepção da palavra, a paixão louca da primeira gravidez dá lugar a uma experiência mais madura, mais calma, por já adivinharmos que vai culminar num amor maior do que tudo. A gravidez acaba por ser um misto de "já sei o que é" com um "que maravilha!". É um "já não me lembrava que era assim" com um "ficava nisto mais uns tempos". Tirando o episódio da semana que passou, esta foi uma gravidez santa, sem queixumes, sem dores, sem grandes ansiedades, nem sequer metade das idas à casa de banho. E, como não sei se será a última vez que estarei grávida, até já tenho saudades.
Estou grávida de 36 semanas, a um mês - se tanto - de conhecer a Luisinha. No tempo que nos falta, vou fazendo as despedidas, devagarinho, da minha barriga (que tem uma filhota aos soluços neste preciso momento), da Isabel como filha única e, também, de mim, como mãe de apenas uma, que consegue ter um colo sempre disponível. Não sei o que me espera. Assusta-me um bocadinho a gestão inicial, a partilha da atenção entre ambas, mas quero acreditar que o meu coração de mãe vai saber o que fazer e que o meu colo se vai espraiar, como as margens de um rio.
Só sei que vai ser uma aventura e tanto e que vamos ser muito felizes. Para já? Duas gravidezes vivenciadas de forma completamente diferente, mas uma certeza no coração: sou uma sortuda por poder sentir em mim este milagre da Vida.